terça-feira, 19 de julho de 2016

Entrevista: Ratones

por paulo costa
fotos ratones






Everaldo Marques (Ratones)
43 anos
31 anos de skate
De São Paulo/SP (ZO de SP)
Artista Gráfico e Proprietário da página Skate Das Antigas (SDA)




Como começou sua história com o skate e como foi a reação da família?
Eu conheci o skate em 1985, mas no começo eu não curtia muito. Eu era Punk na época e achava skate uma parada de playboy (haha), mas aí fui conhecendo Dead Kennedys, Black Flag, e percebi que tinha uma relação entre os ideais Punk e o skate.
Naquela época skate era contravenção total, skatista era totalmente marginalizado, não era como é hoje; o muleque pega o skate e sai andando e pronto! Algumas vezes tive até que brigar na rua para garantir a sessão.

Meus coroas, ah, meu pai nem ligava e minha mãe só não queria que eu faltasse na escola para andar de skate. Mas foi de boa até. Tem sempre alguém da família perguntando se eu ainda ando de skate... Haha, a barba branca na cara para a sociedade tem que ser coisa de um Senhor comportado né? ... Nada de skate e camiseta preta de banda... hahaha.


Qual o primeiro skate?
Meu primeiro skate era horrível! Eu trabalhava numa metalúrgica e os filhos do dono da empresa andavam de skate e tinham uma pequena fábrica de shape, mas tudo muito artesanal, bem caseiro. Não tinha resina e nem concave, bem ruim, mas foi o primeiro. Um era truck 139 e o outro 159, duas rodas de uma marca, duas de outra e é claro, bilhas! O que o moleque evolui hoje em dia em 6 meses, demorávamos 3 anos para chegar perto

Quem eram os parceiros de sessão? Alguém anda até hoje?
Meus parceiros do início eram o Toninho, Denis, Netão... Uns caras da minha área e uma galera que colava de outros bairros para andar com a gente. Era 1 rampa e uma fila de uns 30 caras para pular (rs).
Desses, poucos ainda andam e alguns voltaram a andar depois que criei o Skate das Antigas, que animou uma galera a montar skate de novo e andar.





Quem eram os skatistas que te chamavam atenção, os seu ídolos no skate?
Os caras que me chamavam atenção no Brasil eram o Thronn, Kamisa, Rui Muleque, Beto or Die!, Alexandre Ribeiro e Wilson Neguinho, entre outros, mas esses acredito serem os principais.

Competições?
Corri alguns campeonatos mas nunca curti muito, preferia a session com os amigos nas pistas ou nas ruas. Era bem mais legal que os champs.


Onde entra a arte na sua história?
A arte entrou cedo na minha vida. Desde pequeno ficava admirando um tio meu, que pintava uns quadros e ouvia uns discos de rock nos anos 70 na minha casa.

Em 1989 comecei a trabalhar numa loja de skate e em 1990 fiz meus primeiros desenhos para algumas marcas de skate e segui fazendo paralelamente aos meu trabalho, sempre desenhando.

Mas em 2002 eu joguei tudo para o alto e resolvi viver da minha arte, e lá se vão 14 anos somente dedicado a isso! Já desenhei para quase todas as marcas do Brasil e algumas de fora (USA).

Você é um skatista das antigas e pai de família. Fale um pouco sobre esse lado...
Sim, sou pai de família e skatista há 31 anos, dei muita sorte de ter encontrado a esposa ideal, que entende meu trabalho e me ajuda muito. Me sinto realizado por ser um profissional do skate, viver disso, feliz de meu filho ver como é o Lifestyle de um Artista e de quem trabalha com skate.
Legal poder mostrar que um trabalho como o meu, não sendo o "tradicional", merece respeito como todas as outras profissões.

O SDA virou uma “gang” de coroas skatistas de todo o país. Você esperava por isso? E os eventos do SDA, você conta com apoio de alguém ou é você e você?
Bem, quando eu criei o Skate Das Antigas, eu imaginava o seguinte: "Ah!, vai entrar uns 10, 15 caras, a gente vai ficar falando de pular rampa, shape antigo, Grito da Rua e já era", mas em pouco tempo fui juntando muita gente.

Recomeçamos a viver toda aquela "vibe" dos anos 70, 80 e a coisa foi crescendo; os posts, a participação da galera, descobrindo colecionadores, artistas, muita gente que andou e anda de skate há muito tempo.

Está sendo muito legal, passamos agora de 7 mil membros, pessoas de todo o Brasil e alguns membros de fora, tem membro da Austrália como Peter Rowe, de 63 anos... Poxa, isso é muito gratificante! Nunca esperei por isso e sou grato pela família que eu criei (rs).

Sobre os eventos, eu promovo o Encontro Skate das Antigas de tempos em tempos, não tem data certa, mas é um evento muito bacana! Ver a galera se encontrando, amigos que não se viam há 20 anos se encontraram no evento e já marcaram um rolê de skate... É isso que quero fazer.

Eu tenho apoio de algumas empresas sim, mas não supre todas as necessidades. O Encontro é uma festa colaborativa, todos doam seu tempo e trabalho. Artistas, Djs, bandas, grafiteiros... Não tem retorno financeiro, o ganho dos colaboradores é o nosso máximo respeito e gratidão pela participação.

O maior intuito do evento, além de juntar o pessoal e buscar ao máximo trazer a atmosfera de 30 anos atrás, é o lado social. Todos os eventos fazemos arrecadação de alimentos e brinquedos que destinamos a alguns trabalhos sociais que assistimos.

No último evento arrecadamos cerca de 1000 brinquedos e mais de 200kg de alimentos. Isso é muito gratificante! É muito importante a participação de todos, por isso sempre digo que o SDA é uma família!


Com Jimbo Phillips
O quê você acha mais interessante e bacana no SDA?
Tem muita história, pessoas que voltaram a andar de skate por causa do grupo, os relatos que a maioria viveu naquele Brasil sem peças para andar de skate, pouca informação que tínhamos, prefeito em SP que proíbe skate nas ruas... Tem muita história!

Fale um pouco do projeto RE:BOARD, o qual você teve trabalhos sendo expostos?
O projeto RE:BOARD, foi um evento idealizado pelo Farofa (Sesper), vocal da banda Garage Fuzz e Artista Plástico. A ideia era juntar um grande acervo de shapes de diversos colecionadores, e contar ali um pouco do skate no Brasil desde a década de 1970.

Para mim foi uma honra imensa participar tanto do vídeo quanto da Exposição, pois,  nossa história é muito rica e não pode passar em branco. Posso dizer que de certa forma, o Skate das Antigas nasceu um pouquinho ali, de ver a galera viajando vendo os shapes de mais de 30 anos ali nas paredes, sentir a emoção do skate como era antigamente, assistindo ao filme com relatos de artistas, skaters, caras que fizeram o skate acontecer para chegar onde chegou, então isso tudo foi muito inspirador.

Entrevista na Tribo Skate



Você faz artes só para shapes ou atua em outras áreas, como coleção de confecção, por exemplo?
Eu sou ilustrador e designer. Faço sim artes para shapes, mas já desenhei tênis também, coleções inteiras de confecção, camisetas, bonés, anúncios... Tudo que envolve a parte visual de uma empresa eu faço. Meu trabalho é bem extenso. Além das marcas de roupa e skates, eu gosto bastante de customizações, pintar telas e graffitti quando dá tempo e tenho clientes em outras áreas também, não é só skate.



Quais os artistas do meio do skate brasileiro e grindo que você admira? E artistas fora do skate?
Bem, entre os artistas do Brasil, com certeza o Billy Argel, Speto, Roberto Peixoto, Sesper, Daniel (One)... Entre os de fora, Jim e Jimbo Phillips, Pushead, Wes Humpston e Ron Cameron, entre muitos outros. Muito antes das influências dos artistas do skate, eu me inspirei no começo em outros caras, como o Daniel Azulay, Marcatti, Angeli, Maurício de Souza, Keith Haringe e Jean Basquiat.

Como você define (ou é definido) o estilo da sua arte?
Ah!… Minha arte tem mais a linha Oldschool mesmo, que foi a minha escola. Eu sempre digo que vivi talvez a melhor época disso tudo que a gente gosta; nos anos 80 explodiu o skate, o movimento Punk, artistas, bandas, graffitti, break, ilustradores... Tudo! ... Hehehe, eu estava no meio disso tudo, de certa forma. Então, minha arte tem um pouco disso tudo, a não ser quando desenvolvo um produto específico, com um tema determinado, aí, sigo as instruções dos clientes.





Quase 30 anos já de arte no skate. Qual a primeira marca que você fez um trabalho e quais vieram depois?
No começo fiz arte para umas marcas de pouca expressão, mas aí cheguei a fazer algo para a marca Vision na época, e fui desenhando paralelamente a outros trabalhos. Fui pegar mais firme no final dos anos 1990, quando comecei fazer shapes para a Juice, depois veio a Lifestyle, Freedom Fog, Yourface, Sick Mind e aí não parou mais. Já fiz trabalho para quase todas marcas no Brasil e algumas de fora (USA).



Pra finalizar, quais são os planos para o presente e futuro... Manda o seu recado!
Planos daqui para frente é estar sempre trabalhando e inovando. Pretendo espalhar minha arte no mundo todo, deixar minha marca no skate, continuar trabalhando o Skate das Antigas, sempre juntando a galera e fazendo nosso trabalho social. Cuidar da minha família e andar de skate até quando ainda der.

O recado que deixo é que valorizem o skate nacional! Nossa história é gigante, muita arte, skatistas guerreiros que lutaram para o skate chegar aqui, enfrentando muito preconceito de todos, mas passamos essa barreira e hoje o skate brasileiro é respeitado em todo o mundo.

Vamos valorizar a nossa cena!!

































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1 Responses to “ Entrevista: Ratones ”

FamilyArt Br disse...
20 de julho de 2016 às 19:21

Loko...Ratónes é referência na skate arte no Brasa...parceiro e amigo,assim como sua família.

Muito sucesso.


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